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sábado, 2 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20303: (De)Caras (140): Ainda o comerciante António Augusto Esteves, transmontano, fundador da Casa Esteves, falecido em Lisboa em 1976 (Lucinda Aranha)


Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A Casa Esteves ficava no nº 33 da Av Domingos Ramos (antiga Rua Administrador Gomes Pimentel), que era paralela à Av Amílcar Cabral (antiga Av República), à esquerda (no sentido descendente) e à Rua Osvaldo Vieira (, à direita).

Revendo a Bissau do tempo  do seu pai (, que foi lá empresário entre 1946 e 1973),  Manuel Joaquim dos Prazeres (1901-1977),  Lucinda Aranha Antunes, refere a Casa Esteves, fundada por António Augusto Esteves (*), localizando-a na Baixa de Bissau, nestes termo:

 "Revia ainda as ruas paralelas [à Av da República], com os bairros residenciais de casas de um ou dois pisos, com varandins que ajudavam  a refrescar, alegrados por vasos de rosas, sardinheiras, pervíncas e zínias; à direita, o Hospital e o Grande Hotel, à esquerda, o mercado, a Casa Esteves, a Tipografia das Missões, o campo de futebol [Estádio Sarmento Rodrigues, depois Lino Correia].
  
[in: "O Homem do Cinema - A la Manel Djoquim i na na bim" [Alcochete, Alfarroba, 2018, p. 99]


2. Mensagem de Luís Graça, com data de ontem:

Querida amiga Lucinda:

Só agora li, de lápis na manhã, o seu livrinho, que é um monumento de ternura, sobre a saga da sua família, o Nequinhas, a Julinha, as manas, os amigos... incluindo o "compadre" Esteves... Vou  fazer uma detalhada recensão do seu livro, que eu um dia ainda gostaria de ver transformado em guião para um filme sobre o Manel Djoquim, em Cabo Verde e na Guiné...

Mas agora gostava que comentasse o poste que acabei de editar (*)... Sei que trocou muitos dos nomes (a começar pelas manas...), mas este Esteves é mesmo o fundador da Casa Esteves (que eu conheci em Bafatá, a casa não o senhor),

Tem ideia de quando morreu ? E era de donde ? Como é que uma mulher vai para o Cacheu, em 1922, como professora ? Os filhos (filha, filho...) ficaram por lá ?!... A Casa Esteves ainda existe, apesar da miséria de Bissau...

Tenho fotos para lhe mandar do último encontro de Monte Real,com a Lena Carvalho, a Lena do Enxalé...De resto, já me autorizou a publicá-las no blogue...Será para breve, com a recensão... (O Beja Santos já fez uma, mas eu quero fazer a minha...) .

Beijinhos.Um abraço para o marido e nosso camarada, Antunes. Luís.

PS - Por estes dias estou na Tabanca de Candoz, mas passo agora mais tempo na Lourinhã...

3. Resposta de Lucinda Aranha. 

Guiné-Bissau > Bissau > s/d > Av Domingos Ramos >
Casa Esteves.
Foto: cortesia da página do Facebook
O Valdemar Queiroz diz que a foto
não é de 1980/90 mas sim dos anos 60 (*)

com data de hoje:

Caro Luís,

Li o que escreveu e, devo agradecer ter-me alertado. Há perguntas que me faz no mail para as quais nāo tenho respostas certas, só hipóteses. Falei com o sr. Pereira, genro do Esteves, que me propôs um novo encontro em casa dele onde se sente mais à vontade para falar do que ao telefone.

Contrariamente ao que escreveu, o Esteves morreu antes do meu pai, em 1976, em Lisboa, de cancro no pâncreas. Era de Trás-os-Montes, casou lá, penso que ele e a D. Maria eram de Mirandela. É aí que compraram uma boa casa, quando enriqueceram. Tiveram um filho, o Fernando que também morreu de cancro, e 3 filhas, a Maria Arminda, casada com o Pereira, a Clotilde, viúva do Costa,  e a Mariazinha que também já morreu. 

Não sei os motivos que levaram a D Maria a ir dar aulas na Guiné, eventualmente vantagens de carreira ou desejo de melhorarem a vida. O Esteves distanciou-se da mulher que passou a viver em Mirandela, e tinha uma companheira, a Olga, que conheceu nas condições que conto no livro, e que depois veio viver para Lisboa . Teve outras companheiras na Guiné, pelo menos uma indígena de que tomámos conhecimento após a sua morte, quando constou , para grande desgosto da Olga, que havia um filho por lá. Disse-me o Tony Tcheka que lá tem uma filha que montou um excelente ressort.

Quanto à Casa Esteves,  o Pereira, o genro,  tomou conta dela até 18 de Dezembro de 74, altura em que entregou a direcção a 3 empregados de confiança que a entregaram ao Costa quando regressou de férias de Portugal. O cunhado adoptou uma política mais consentânea com os tempos da revolução e foi o fim da Casa Esteves.

Quando tiver informações mais precisas logo lhe direi.

Adorei que tenha gostado do livro, espero a recensão,, quanto às foyos tem inteira liberdade para as postar.

Um abraço saudoso, Lucinda Aranha



"Sou mesmo a do meio com um ar de beicinho. A mais velha é a minha irmã Teresinha,  filha do primeiro casamento do meu pai,  e as restantes somos do segundo. As três mais velhas nasceram em Santiago, Cabo Verde, a pequenina da ponta em Bolama, nos Bijagós, Guiné Bissau,  e eu em Lisboa"... Foto e legenda (2016): página do Facebook, Lucinda Aranha Antunes - Andanças na Escrita (Com a devida vénia...).

4. Comentário de Patrício Ribeiro (*):

A Casa Esteves, na Av. Domingos Ramos, (na Avenida onde existia a Solmar), esteve alugada nos anos 2000 e durante diversos anos a uma Sra. Portuguesa, que praticava Comércio Geral.

Mas, desde alguns anos, que o edifício é um Banco Comercial.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20297: (De)Caras (139): Quem foi António Augusto Esteves, colono desde 1922, comerciante, fundador da "Casa Esteves", simpatizante do PAIGC?


Guiné-Bissau > Bissau > Casa Esteves > c. 1980/90 (?) > Av Domingos Ramos, nº 33 (?). Foto: cortesia da página do Facebook de Adilson Cardoso. nascido na Guiné-Bissau, a viver em Lisboa. O fundador, António Augusto Esteves, foi dos poucos velhos colonos portugueses que terá ficado por lá, depois da independência, tendo sido, ao que parece, simpatizante do PAIGC. Ou soube adaptar-se ao fim do "império". Antes da independência, a Casa Esteves era na  Rua Administrador Gomes Pimentel, num r/c, havendo no piso superior 4 moradias para a família e para alugar... Em frente ficava a Tipografia das Missões  onde se publicava "O Arauto" (, a informação é da Lucinda Aranha Antunes. "O Homem do Cinema" (Alcochete, Alfarroba, 2018, p. 112).



1. António Augusto Esteves foi um conceituado colono da Guiné portuguesa, comerciante, radicado no território, nos anos 20, tendo inclusive sido nomeado, como vogal, do primeiro Conselho Legislativo da província, em março de 1964. Pertencia igualmente à direcção da Associação Comercial, Industrial e Agrícola.

No romance ou  biografia ficcionada "O Homem do Cinema - A la Manel Djoquim i na na bim" [Alcochete, Alfarroba, 2018, 163 pp, il,] a autora, a nossa amiga e grã-trabanqueira Lucinda Aranha Antunes (*), tem várias referências a esta conhecida figura da vida comercial da Guiné, o António Augusto Esteves, sendo inclusive amigo e compadre de seu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres (1901-1977), empresário, caçador e homem do cinema ambulante que, nascido em Lisboa, viveu grande parte da sua vida em Cabo Verde (1929/1943) e depois na Guiné (1943/1973).

Segundo a Lucinda Aranha Antunes (op cit, pp. 103 e ss), o fundador da Casa Esteves teria chegado à colónia em 1922, acompanhando a mulher que fora colocada no Cacheu como professora primária. .  

No Cacheu terá começado a dar cinema. Entretanto, a mulher no final dos anos 30 é colocada em Bafatá. O Esteves conhece o Manuel Joaquim quando este se muda de Cabo Verde para a Guiné em 1946. Em 1951, em Bissau, o Esteves explora uma sala de espetáculos, onde projeta cinema, sala que fica totalmente destruída na sequência de um incêndio.

É a altura então em que inicia os seus negócios no ramo do comércio. Começou com um camião e ao fim de algum tempo tinha várias filiais junto à fronteira e no interior do país (Em Bafatá, por exemplo, a Casa Esteves era conhecida de alguns de nós, sendo o gerente um transmontano de Mirandela, o sr. Camilo.)

Na obra atrás citada, a filha do "Manel Djoquim" (que, diga-se, de passagem, escreveu um notável livro de memórias sobre Cabo Verde e a Guiné, onde, a par de Lisboa, decorre a saga da família, mas também um livrinho que é um monumento de ternura pelo seu pai, que tinha o nominho de Nequinhas, e pela sua mãe Julinha...), diz-nos algo mais sobre os negócios do António Augusto Esteves (p.  104):

(...) "O compadre estendera, pouco a pouco, os negócios comercializando arroz, calçado, fardos e fardos de suecas, camisolas interiores sem mangas, fabricadas em Portugal, e tão baratas que os indígenas ao fim de uma semana de uso continuado, descartavam.

"Por influência do Pereira, seu genro, começou a fazer representaçã de carros e de motas (Honda, Volvo, Simca, Vauxhall Bedford), tendo também representação de acessórios auto. Mas não se ficou por aí, passando a importar máquinas fotográficas japonesas, frigoríficos, primeiro a petróleo e nos anos sessenta-setenta já elétricos, rádios, gravadores, máquinas-ferramentas, além de não desdenhar a venda de combustível"...

" - Dou graças a Deus por o cinema  ter ardido [em 1951] e eu ter mudado de vida. A Casa Esteves é a minha galinha dos ovos de ouro" (...).

Alguém saberá mais sobre este homem, que conheceu vários regimes políticos (Monarquia Constitucional, República, Ditadura Militar, Estado Novo, República da Guiné-Bissau...) ?  (***) Não sabemos quando morreu, mas foi já depois da independência da Guiné-Bissau, e possivelmente ainda uns anos depois do seu compadre Manel Djoquim (1901-1977)(*).


Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Coleção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).

Projeto do arquiteto Jorge Chaves (, datando de 1949/52), é considerado o melhor edifício colonial da ex-Guiné portuguesa (, segundo a opinião da especialista Ana Vaz Milheiros). Depois da independência, passou a ser a sede do PAIGC.

Foto: © Agostinho Gaspar (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O nosso amigo e camarada, guineense, António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., c/ ilustrações), refere o nome do António Augusto Esteves, como vogal do Conselho Legislativo:

(...) "O profundo conhecimento da realidade guineense e a reconhecida ascendência social, contribuíram para que em 1964, no mandato (1964-1968) do General Arnaldo Schulz, como Governador, a “tia Nâna” viesse a ser eleita e por sufrágio directo, para exercer as funções de vogal do primeiro Conselho Legislativo da Província da Guiné.

Como vogais natos, integravam o Conselho o Inspector Dr. James Pinto Bull e o Director de Finanças, Tomás Joaquim da Cunha Alves, o Comandante Militar e o Delegado do Procurador da República.

Ainda, por sufrágio directo, Fernando dos Santos Correia e Joaquim V. Graça do Espírito Santo. Pelos Corpos Administrativos e Pessoas Colectivas de Utilidade Pública o Dr. Luís dos Santos Lopes. Pelos Organismos Morais e Culturais o Padre José M. da Cruz Amaral, pelos Contribuintes os comerciantes António Augusto Esteves e Mário Lima Wahnon. Pelos Corpos Administrativos e Pessoas Colectivas de Utilidade Pública o Dr. Artur Augusto da Silva [, pai do nosso Pepito e marido da Dra. Clara Schwarz ] e, pelas Autoridades das Regedorias Joaquim Batican Ferreira, Sene Sane e Mamadú Bonco Sanhá [, o régulo de Badora]." (...) [Negrito nosso, LG]


3. Excerto das memórias de Carlos Domingos Gomes, 'Cadogo Pai' (Bissau, edição de autor,  2008):

(...) “Voltei a encontrar o camarada Aristides Pereira em Madina do Boé. Foi na altura do 1º Aniversário da nossa Independência Nacional. Conduzi uma delegação de Bissau até Gabú. Era comandante da zona o sr. Honório Chantre que nos recebeu à chegada a Gabú. Após se inteirar da nossa intenção de irmos assistir às comemorações do 1º Aniversário da nossa Independência, mandou-nos procurar alojamento e aguardar a resposta à comunicação que ia mandar para a base.

“No dia seguinte, logo pela manhã, mandou-me chamar a mim e aos companheiros a fim de dar a resposta prometida. Da autorização recebida, só eu podia entrar para a base, escolhendo uma pessoa para me acompanhar.

"A delegação era composta por 14 nacionais e um português, de nome António Augusto Esteves, ex-comerciante bem conhecido, já falecido, radicado há dezenas de anos na Guiné-Bissau. Posso testemunhar a sua dedicação, bem coberta a causa da Independência (como o testemunham os bens implantados).

"Foi ele então a pessoa escolhida para me acompanhar. Foi deslocado um helicóptero da base de Madina Boé a Gabu para nos transportar. A minha escolha causou mal estar na caravana que teve de regressar a Bissau.

"A chegada à base que acolheu a manifestação, fomos recebidos pelo então Comissário do Comércio, o camarada Armando Ramos, que a seguir às manifestações, recebeu ordens para nos conduzir a uma sessão especial, onde encontrámos, reunido, todo o elenco dirigente do Partido, entre eles com a toda a surpresa o camarada Aristides Pereira que me acolheu de braços abertos, com uma abertura desconhecida no seu semblante, sempre fechado. Disparou-me a seguinte pergunta:

- E as nossas conversas em Bolama ?

"Respondi comovido, só descobri os fundamentos dos nossos encontros após a sua partida dita para os Estados Unidos." (...) [Negritos nossos]


4. Comentário de António  Rosinha, outro amigo e camarada nosso com um profundo conhecimento da Guiné, onde trabalhou na empresa Tecnil, depois da independência (**):

O português António Augusto Esteves, a que Cadogo se refere, antigo comerciante, poderá ser da célebre "Casa Esteves", que continuava a funcionar com muita dificuldade em plena ortodoxia comunista. Essa casa fica na rua do mercado municipal. (***)

Vários comerciantes mantinham após a independência um certo entendimento com os governantes. Embora sem grandes perspectivas, foi melhor do que em Angola e Moçambique, devido à guerra com Renamo, Unita e FNLA, após 74.

Quando falamos que a Guiné está mal, no pós-independência, o povo não sofreu nada comparado com as guerras de Angola e Moçambique, após 1974. Embora o petróleo pague e esqueça muita coisa.

Agora ver um guineense com o nome respeitado como Cadogo, ter que recorrer a um cabo-verdiano, A. Pereira,  do PAIGC, para "provar" o seu nacionalismo, ajuda-nos a subentender o que foi o pesadelo dos nosso comandos e de muitos anónimos.

Quando se cria a ideia que historicamente a administração usou os cabo-verdianos, se virmos por outro prisma, a capacidade, a necessidade e a inteligência dos cabo-verdianos, não seriam estes a imporem-se, em Bissau, mas também em Luanda?

Exceptuando os velhos comerciantes, "atrasados" e "analfabetos", que falavam vários dialetos e se «amancebavam» nos fins de mundo, a verdadeira administração colonial, nunca passou de uns ingénuos "piriquitos", perante os cabo-verdianos e luso-descendentes, e os brancos de 2ª ( de vez em quando, por conveniência, quem se auto-intitula de 2ª é Otelo Saraiva de Carvalho).

Penso que o que digo, não ofende ninguém, até porque me refiro a um grande número que continua português como eu e cujos filhos e netos, mesmo nascido lá, são registados (também) cá." (...)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12991: Tabanca Grande (433): Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu em Cabo Verde e na Guiné entre os anos 30 e 1972, e que era empresário de cinema ambulante

Vd. também postes de:

23 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13022: Em busca de... (241): Fotos e histórias do cinema ao ar livre e do empresário Manuel Joaquim dos Prazeres, que deambulou pelo território entre 1943 e 1972 (Lucinda Aranha, filha e escritora)

9 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13120: Notas de leitura (588): "Julinha", um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

(...) O meu pai teve 7 filhos, todos eles nascidos na Praia, excepto a sexta nascida em Bolama e eu que vim a nascer em Portugal. Viveu na Praia entre 1929 e 43 e desde essa data até 1972 na Guiné portuguesa, vindo à metrópole para junto da família, que residia em Portugal desde 1946, na época das chuvas.

Assim, nem eu nem os meus irmãos estudámos em África.

(...) Fui professora, leccionando História no ensino secundário. As estórias sobre África que conto no Reino das Orelhas não foram vivenciadas por mim mas são recordações dos meus pais, da minha ama Sampadjuda e dos amigos cabo-verdianos e guineenses que enxameavam a nossa casa de Lisboa.

O meu pai praticava uma política de casa aberta aos amigos. Por lá passavam administradores, chefes de posto, comerciantes e as suas famílias, alguns deles chegaram mesmo a ser residentes temporários.

Envio-lhes um excerto do livro que estou a escrever sobre Manuel Joaquim onde a sua mulher discreteia sobre essas «invasões» e que, penso, lhes permitirá perceberem melhor as minhas relações com a Guiné." (...)